Roteiro para performance não realizada no Real Gabinete de Leitura Português

R O T E I R O
R O M A N C E
 
0! (zero)
 
3 degraus de escada para atravessar a porta, sempre aberta, da biblioteca pública, na terminologia local, gabinete de leitura, REAL Gabinete Português de Leitura.
 
Cinco passos adentro os BUSTOS DE PEDRA. Ramalho Ortigão à direita, Eduardo Lemos à esquerda e um pouco mais à frente os BUSTOS ELETRÔNICOS, compondo duas duplas desconcertantes, unidas por habitarem o mesmo espaço e antagõnicas por pertencerem a tempos distintos.
 
Vamos Anunciar! Vamos Anunciar!
 
De olhos fechados Márcia X. é a TELA. (bustos eletrõnicos) Abre 1 olho, somente 1, como CAMÕES faria. A palavra OLHE pisca.
 
OLHE*OLHE*OLHE*
 
(método por identificação) - cena gravada no R.G.P.L. em que várias pessoas entram e olham, se curvando um pouco, através dos vidros losan- gulares das portas laterais; como quem olha por um buraco de fechadura. São os AMBIENTES VERMELHOS - experimente você também! - A cena é repetida várias vezes sem que se mostre, nunca, o que está do outro lado, a meta, a visão onírica, a “realidade com truques”. (Esta cena é também recons- tituída por setas no chão, como manuais de dança de décadas atrás). Todas as cenas se repetem...
 
Vamos Anunciar! OLHE*OLHE*OLHE*
 
Retina impregnada de vermelho e o espírito de lúcida curiosidade; tomar novo rumo, a NAVE CENTRAL. Tudo a desvendar, mas... Onde depositar o olhar? Na luz que deságua da abõboda, nos livros incontáveis, relevos, adornos, as TVs naquela mesa descomunal logo à frente, a arrumação das mesas, aquela figura, isto sim, ao lado uma FIGURA que monopoliza todos os sentidos... No último degrau da escada mais alta, cabelos cor-de-rosa escorrendo até o chão. Ela retira cada livro da estante e não o lê. Abre o livro e cheira-o, um a um, se deixando tomar pelas sensações ins pi ra do ras, de li ci o sas, nu tri ti vas, re ve la do ras ... que emanam daquelas páginas.
 
O tempo todo aquele SOM, o que seria? Um falar contínuo, parece surgir dos quatro cantos, vindo da boca dos quatro guardiães: CAMÕES, CABRAL, MINERVA e VASCO DA GAMA. Um relato imaginário ? A descrição de um planeta distante? Uma viagem fabulosa certamente, elefantes, acontecimentos estranhos, ouro, prata, sol, chuva, armas, flores, deuses, mandarins, salões, música................................................. HOMEM AO MAR! ..... TCHIBUMM... Este grito rompe repentinamente o transe. Já é possível olhar as TVs que ladeiam a estátua preta. Lá está Camões novamente! Na TV outra “peregrinação”, esta ao interior do corpo “humano.” EVA A BONECA GIGANTE. Coração, estõmago, veias, ouvidos, pulmões enormes, imensos em relação ao outro ser humano que se encontra lá dentro explicando como tudo aquilo funciona.
 
Olhar as vitrines, escolher uma das mesas para sentar, olhar, ouvir, Estar, .............. Hora de ir embora.
O que seria afinal tudo aquilo ?
O que seria afinal tudo o que não é aquilo ?
 
Sacolas, castanhas do Pará, canetas, balas, pulseiras de relõgio, todo tipo de quinquilharia... No meio de tantos apelos uma visão estranha, uma construção talvez incomum, original, ou seria melhor dizer logo uma maravilha do outro mundo!
Lá dentro todas as palavras, todos os pensamentos possíveis (?), todo o conhecimento acumulado ao alcance da mão. Um organismo que se alimenta do tempo. R E A L se propõe a ser mais um elemento a participar deste mecanismo. 30 minutos de acontecimentos vivos e televividos.
 
Ações... ecos... reflexos... correspondências + milagres diários: