Panorama da Arte Brasileira - MAM SP

O Panorama da Arte Brasileira é uma instalação organizada pelo MAM de São Paulo a cada dois anos com a intenção de apresentar um recorte da produção de arte contemporânea brasileira, resultando em mostras muito interessantes.
 
É uma pena que uma mostra tão significativa seja tratada desta maneira vulgar por um jornal que já foi um dos mais importantes do Brasil, com projeto gráfico inovador de Amilcar de Castro, com um suplemento cultural responsável pela publicação do manifesto do Movimento Neoconcreto e o esquimbau, ou seja, que já foi o centro do debate cultural do país, mas que infelizmente perdeu o passo e se transformou num jornal desatualizado e retrõgrado.
 
Pancake surgiu do mesmo ímpeto de outros trabalhos meus, o desejo de criar figuras míticas femininas, trabalhar em torno de obsessões culturalmente associadas às mulheres, como beleza, alimentação, rotina, limpeza e religião. As ações desempenhadas em Pancake fundem procedimentos de maquiagem e culinária com o uso de ferramentas pesadas como uma marreta e um ponteiro. O primeiro jorro de leite condensado é despejado sobre os olhos, 11 latas gigantes, quase 30 quilos, derramadas sobre o corpo vão formando uma máscara, uma escultura que se desfaz e refaz ininterruptamente. A chuva de confeito acrescenta bolinhas coloridas ao que já era excessivo.
 
Pancake não é um trabalho que requer a participação do público mas sempre alguém bota o dedo para lamber um pouquinho do leite condensado, estende a mão para pegar confeito ou me dá um abraço no final da performance. Na apresentação no Free Zone em São Paulo, uma rapaziada roubou um saco de confeito e ficou atirando bolinhas em mim da platéia.
 
Na abertura do Panorama dia 13 em Salvador, eu faço Pancake pela sétima vez desde a primeira apresentação na Orlândia em maio de 2001. Os vestígios resultantes da performance são deixados em instalação cobertos por uma redoma de acrílico.
 
É bom pensar que muitos artistas têm desenvolvido trabalhos significativos em performance no Brasil, tais como Flávio de Carvalho, Hélio Oiticica, Lígia Clark, Antõnio Manuel, Tunga, Aguilar, Alex Hamburger, e que agora vivemos um momento de grande interesse pela performance tanto aqui quanto fora do país.
 
No início de 2001, o artista Ricardo Ventura começou a fazer uma reforma em uma casa da família dele na Rua Jornalista Orlando Dantas em Botafogo, e teve a idéia de organizar uma instalação enquanto as obras estavam sendo realizadas. O interesse dos artistas foi surpreendente, não havia dinheiro para a produção, mas a grande maioria das instituições também não tem verba para gastar com artistas e arte, portanto tínhamos a vantagem de não termos uma instituição para impor limites às propostas que surgiram. Outro ponto muito positivo foi a mistura de artistas de diversas cidades, gerações e linguagens. É por esse motivo que Orlândia e Nova Orlândia foram exposições tão vigorosas. Houve muitos desdobramentos importantes: trabalhos foram vendidos, artistas foram chamados para exposições como a Bienal do Mercosul, foram publicadas matérias na Flash Art, Sculpture Magazine, Contemporary Art, tiveram lugar a montagem da primeira instalação da série Lições Americanas de Simone Michelin, uma performance inédita de Tunga, Luiz Áquila apresentando uma instalação, Cry me a River, que Lina Kim está mostrando na Bienal de São Paulo ela foi realizada pela primeira vez em Nova Orlândia e mais mil acontecimentos indescritíveis. Pretendemos fazer Grande Orlândia no segundo semestre, estamos trabalhando com a possibilidade de fazermos no Rio, São Paulo ou Portugal.
 
Em paralelo à produção de Grande Orlândia, tenho uma instalação participativa, alguns objetos e uma performance em mente para este ano. Ainda este mês, estarei mostrando uma performance nova, Cair em si, no Museu de Arte Contemporânea de Americana, dia 18, e no Centro Cultural da UFF em Niterõi, no dia 22.